29 de nov. de 2010

Uma guerra cotidiana, uma redenção diária

Eu gostaria de falar do Rio de Janeiro. Até me contive por um tempo por não ter argumentos suficientes para o que vou defender aqui, mas gostaria! E como escrever é um comichãozinho que não escolhe hora oportuna, eu me atrevo a colocar aqui um pouco do que sinto sobre a minha cidade natal.

Mesmo não morando lá, penso que muitos, assim como eu, ficaram desde o último domingo (21), estarrecidos com o que vem acontecendo naquele cidade, chamada de maravilhosa. Armandos não só de fuzis como também de um objetivo comum, ditos por eles, que é o combate ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro, policiais civis e militares, assim como tanques de guerra das forças armadas, compuseram um novo cenário nas ruas daquela cidade.

Eu que não conheço as favelas do Rio, posso dizer pelo que vi na Tv, que tudo começou após uma onda de ataques nas ruas, onde carros e ônibus foram incendiados. A populção entrou em desespero e o poder público teve que tomar alguma atitude de resposta àqueles ataques.

Então, a guerra continuou. Continuou, porque na minha opinião, esta guerra existe há muito tempo. Tudo bem que não se vê assim, com tanta naturalidade, tanques de guerras nas ruas, mas pra mim o que acontece hoje já era anunciado...

De fora daquela realidade, outra coisa que eu acho, no mínimo, interessante é o estardalhaço que é feito pela imprensa em cima daqueles fatos. O fato é inédito e sem dúvida é importante: "as tropas armadas subiram o morro", no entanto, o que me choca é fazer disso MAIS uma série de TV, com direito a começo, meio e fim.

Certas coisas me cansam e uma delas é a hipocrisia!Poxa vida, o tráfico do Rio não começou no domingo, e não vai durar uma semana. Quem esteve lá antes das tropas subirem o morro? Quem vai estar lá para mostrar os resultados disso? As redes de TV eu acho que não, uma vez que certamente vão estar em busca de mais uma "série de TV".

Mesmo não morando lá, mas como carioca, nascida na cidade do Rio de Janeiro, me sinto triste com a realidade que vejo. Com a minha passagem marcada para passar as festas de fim de ano com a família, confesso que sinto medo, mas também me sinto indignada!

Os dilemas do povo carioca ultrapassam ao que se passa na TV. Não se pode e nem se deve fazer julgamentos pelo que vemos de fora. A situação talvez até seja bem pior do que é transmitido, por isso mesmo acho indevido fazer de uma realidade tão complexa, uma série de Tv, sem roteiros. Cada um que dê o seu pitaco e a impresa mais uma vez usa do seu "SUPER" poder para dizer o que quer.

Ao invés de estardalhaços, vamos pensar no futuro dessa nação! Pensar de verdade, sem falsos alardes e sem falsas esperanças. Ontem ouvi um repórter perguntanto para um tentente da polícia, "para onde foram os traficantes?" e eu te respondo que nem ele sabe!

Ele não sabe porque a guerra não começou agora; ela é diária! Nem o repórter e nem a polícia estão lá todos os dias. Quem está lá é população com os seus dilemas cotidianos. Infelizmente o tráfico no Rio não vai acabar como uma série de Tv, ele vai persistir porque o problema está na raiz. E essa raiz é bem mais profunda do que imaginamos.

Ela começa na base. Quando um filho é espancado no morro e desce para roubar. Quando não tem acesso a educação de qualidade. Quando o filhinho de papai sobe o morro pra se divertir e comprar drogas. Ah, ela acontece também quando os próprios policiais são corruptos. Ou você acha que os traficantes presos comandam o tráfico de dentro dos presídios com a ajuda de quem?

Eu na verdade, tenho pouco a falar e concordo que as ações atuais terão seus efeitos positivos e que precisariam ter ocorrido há mais tempo. Talvez eu tenha mais a dizer quando observar um pouco de perto tudo isso, rezando é claro, para que minha viagem seja tranquila. Sei que será e sei que só vou atestar o que já tenho certeza, porque presenciei desde que nasci e tenho provas disto na minha própria família: o povo carioca é guerreiro, trabalhador e esperansoço. Ele não é melhor e nem pior do que ninguém. Eles sofrem o mesmo o que a gente sofre, com o descaso daqueles que deveriam olhar para eles.

A diferença é que eles conhecem uma guerra, são combatentes. E mesmo com tudo isso, talvez não esperem um final feliz de novela, mas esperem que algo melhore para poderem tocar a vida com mais dignidade.

Nenhum comentário: